Saturday, February 13, 2021

Uma visão nada convencional sobre a proclamação da república

As histórias que ouvimos de nossos tutores geralmente falam da monarquia como um regime retrógrado, uma forma de governo bárbara e primitiva, incompatível com a modernidade e a tecnologia.
Por conta de um legado historiográfico muitas vezes isento de autocrítica, pinta-se a figura dos antigos monarcas como exemplo de despotismo e obscurantismo, e que precisavam dar lugar a uma forma de governo mais alinhada com o século das luzes.
Mas, para caminharmos em direção aos fatos que ilustram essa matéria, e desfazer certos mitos impregnados no imaginário popular, teremos de revisitar alguns acontecimentos da nossa história, trazendo à luz certos fatos politicamente inconvenientes que os republicanos por muito tempo fizeram questão de omitir.
Então, convidamos você a nos acompanhar por mais essa singela viagem. Por isso senta que lá vem a história.
Ao contrário do que se poderia esperar depois de tantos séculos de propaganda oficial, nunca houve no Brasil uma adesão minimamente significativa à plataforma republicana.
A verdade não contada é que a monarquia, mesmo com seus altos e baixos, ainda contava com muito mais prestígio do que seus opositores, e àquela altura do campeonato eram poucos os que realmente acreditavam que substituir o imperador por um presidente faria mudar para melhor os rumos do país.
Um dos que rejeitavam completamente a proposta republicana era ninguém mais ninguém menos do que o próprio Deodoro da Fonseca, que entraria para a história como o proclamador da república e o primeiro presidente brasileiro.
Antes de virar a casaca, Deodoro por diversas vezes afirmou que o modelo republicano era totalmente incompatível com o espírito nacional, e até passou a aconselhar seu jovem sobrinho para que se afastasse da agenda revolucionária dos republicanos.
Contudo, para chegar nesse ponto, a história brasileira passa necessariamente por várias intrigas palacianas regadas a muita fake news, como você verá. 

Ao mesmo tempo em que o movimento republicano não decolava, é bem verdade que o exército começou a ganhar força e influência no país. E isso seria de particular importância no futuro, já que foi o exército a instituição responsável pelo golpe que alterou o regime.
Cabe constar que, até aquele momento na história, a força militar que detinha o maior prestígio no país era a marinha, seguindo a tradição das armadas europeias.
Mas esse fato estava prestes a mudar, pois quando o mentecapto ditador paraguaio Solano López invadiu o Brasil, julgando ser uma espécie de Napoleão dos trópicos, coube ao exército a defesa e os maiores sacrifícios em prol do território nacional.
E foi justamente nessa época que Deodoro começou a fazer fama, conquistando várias condecorações por bravura e começando a ser visto como uma liderança nacional e possível substituto de Dom Pedro II.
Em virtude desse novo status do exército, muitos passaram a ver na instituição uma saída para curar a chaga da corrupção brasileira.
Outro fator relevante é que o exército foi sendo aos poucos invadido pela filosofia positivista de Augusto Comte, e embora essa moda filosófica já estivesse passando na Europa, já que Conte era oficialmente doido de pedra, aqui no Brasil esse pensamento ainda fervilhava no fim do século XIX.
Os positivistas eram em sua maior parte homens jovens ligados ao exército que chamavam a si próprios de "os científicos" e acreditavam ter em mãos o manual para resolver todos os problemas da humanidade.
Antes de prosseguirmos, reflita sobre uma curiosidade: Onde você já viu esse roteiro? Um grupo de jovens insatisfeitos que descobre um manifesto aleatório e acredita ter a resposta para todas as perguntas e a cura para todas as dores... e que para implantar seu paraíso só precisam tirar de cena os mais velhos com seus pensamentos mofados, e revolucionar todas as estruturas arcaicas vigentes...
Se você achou que isso era coisa de roqueiros hippies, punks ou black blocks do PSOL, bem, você pensou errado. Toda geração pode se orgulhar de ter seus próprios idiotas úteis.
Eles perceberam então que para assumir o poder, os positivistas precisavam do apoio de um célebre nome da velha guarda do exército, e Deodoro preenchia todos os requisitos. Exceto pelo fato de que ele era monarquista e se considerava amigo do imperador.
Vale mencionar que a monarquia também não era propriamente popular entre as elites agrárias, por conta da abolição da escravatura. Na verdade, quando houve a abolição, os donos de engenho mostraram-se indignados por não receber qualquer indenização do governo.
Adicione-se a isso o fato que também tivemos certa instabilidade vinda do exército, já que as reivindicações por melhores salários não estavam sendo atendidas.
E foi em um desses embates por melhores salários que o conspirador republicano Júlio de Castilho começou a semear a discórdia entre Deodoro e Dom Pedro II. Acontece que Júlio de Castilho publicou na imprensa com a participação de Deodoro um manifesto pelo aumento do soldo do exército.
Mas legalmente até então os militares não podiam se envolver em política, e aquele manifesto colocava Deodoro numa posição delicada.
Aproveitando-se disso, as lideranças republicanas espalharam o boato de que o Visconde de Ouro Preto, (que tinha um cargo equivalente ao de primeiro ministro) mandaria prender Deodoro da Fonseca.
Por uma infelicidade, Deodoro acaba acreditando no boato e decide agir, marcha até o gabinete e destitui o Visconde de Ouro Preto de seu posto.
As esperanças dos golpistas era de que já nessa ocasião Deodoro imediatamente assumiria o poder e proclamaria a república, o que não aconteceu, já que Deodoro conservava certa lealdade ao imperador.
Mas ainda havia um último recurso, uma sórdida carta na manga dos republicanos que certamente mudaria os rumos do Brasil.
Segundo a mais nova fake news dos republicanos, Dom Pedro II tinha decidido nomear o senador gaúcho Gaspar Silveira Martins para o ministério que pertencia ao Visconde de Ouro Preto.
Ocorre que Deodoro e Gaspar eram inimigos de longa data, já que anos antes esse mesmo homem teria disputado com Deodoro os amores de Maria Adelaide Andrade Neves, a filha do Barão do Triunfo.
Contam os relatos que a baronesa rejeitou as investidas de Deodoro e casou-se com o senador gaúcho, gerando uma rixa eterna entre os dois pretendentes, fato este que mais tarde abalaria os pilares do império.
Ora ora... quem poderia imaginar que a história do Brasil teria sua própria Helena de Tróia?
Quando ouviu que seu rival Gaúcho seria nomeado para o ministério imperial pelo próprio Dom Pedro II, Deodoro da Fonseca deixou aflorar a dor de seus chifres e declarou: digam ao povo que a república está feita.
E assim, num passe de mágica, os militares deram a notícia a Dom Pedro, dizendo que ele e sua família precisavam arrumar as coisas e sair do país imediatamente por ordem do novo governo.
Os republicanos até providenciaram para que a família real deixasse o país de madrugada, temendo que houvesse algum tipo de reação violenta por parte do público.
E de fato, a preocupação não era a toa, já que o movimento republicano não era nada popular, ao passo que a família real detinha um razoável prestígio, principalmente entre os negros libertos. E por isso muitos sequer entenderam o que estava se passando naquele momento.
Segundo um icônico relato do jornalista Aristides Lobo, o povo simplesmente assistiu bestializado ao que se passava.
Assim, com base em conspirações, fofocas e intrigas palacianas regadas a muita fake news, o Brasil entrava no período republicano, um período que teria muitos golpes e contragolpes, e que ainda levaria ao poder figuras como Dilma e Getúlio Vargas.
Por isso, não é de se admirar que cada vez mais pessoas considerem que o golpe da república foi uma das piores tragédias do país.
Bem, antes de encerrarmos, é pertinente que você saiba que tipo de política foi implantada pelos mentores do governo republicano.
Você ainda se recorda de que os ideais supostamente científicos dos positivistas iriam resolver todas as mazelas do país?
Pois eu desafio você a adivinhar: qual foi a primeira política instituída por Rui Barbosa, o homem conhecido como o maior de todos os intelectuais da república?
Acertou se você disse imprimir dinheiro sem lastro.
Sim, a nata da intelectualidade positivista fez o que os governos sempre fazem...
Barbosa autorizou que os bancos estaduais emitissem dinheiro, afirmando que um dos problemas do Brasil era a falta do meio circulante...
E assim, com as impressoras trabalhando a todo o vapor, e com ações sendo emitidas como nunca antes visando um projeto de modernização do país, cada vez mais o dinheiro que era injetado na economia era usado para comprar as novas ações emitidas, causando a retroalimentação de um círculo vicioso e uma crise inflacionária sem precedentes.
Essa crise ficou conhecida como crise do ensilhamento, que é um termo que remete às frenéticas apostas de corrida de cavalos, tão louca foi essa política protokeynesiana de Rui Barbosa.
E apesar de ter sido o mentor de um desastrado programa gerador de uma inflação galopante, até hoje há quem reconheça Rui Barbosa como o maior intelectual do Brasil.
Mas como dizia o dito proverbial: não há nada de novo debaixo do sol, e fatos assim só confirmam a insanidade de delegar os rumos da economia a uma casta de intelectuais com planos mirabolantes de engenharia social.

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