Tuesday, March 8, 2022

A armadilha demográfica que demolirá as ambições chinesas

Em 1992 foi publicada a obra máxima do historiador Francis Fukuyama denominada: "O fim da história e o último homem", em que o célebre escritor discorria sobre a derrocada dos sistemas totalitários como fascismo e comunismo, e a ascensão inconteste do sistema liberal.
Como foi uma ideia trazida na esteira da queda da União Soviética, a tese de Fukuyama continha a princípio um certo charme e apelo intelectual, mas os anos seguintes trouxeram novos desafios que contestaram a liderança da economia de mercado.
Sem sombra de dúvidas, a potência antagonista que mais se destacou nesse período foi a China comunista, com sua economia pavimentada por um dirigismo estatal totalitário. Essa ascendente trajetória chinesa trouxe aos partidários do estatismo a esperança de que a China enfim superaria os EUA em um curto espaço de tempo.
Uma dessas esperançosas previsões veio do Centro de Pesquisa em Economia e Negócios, uma entidade inglesa que estimava que em 2033 a China já se tornaria a maior economia do mundo. Na verdade, tão grande foi o entusiasmo dos partidários dessa tese que a mesma instituição voltou a revisar seus dados no final de 2020, dessa vez declarando que a economia chinesa já ultrapassaria o PIB americano em 2028.
Se tais previsões se confirmassem, naturalmente que isso representaria um abalo significativo nas alegações da superioridade do mercado, pois a China estaria trazendo uma evidência empírica e substancial de que a prosperidade não seria apenas compatível com o planejamento central, como de fato o dirigismo econômico se provaria como a melhor via econômica para o século XXI.
Enfim, o quadro como um todo parecia até então muito promissor para os socialistas. Logo, o que poderia dar errado? E a resposta é: Tudo.
Primeiramente é necessário esclarecer uma importante questão: qual o cerne das décadas de crescimento econômico chinês?
Alguns poderão afirmar que foi o investimento em tecnologia que multiplicou os índices de riqueza chinesa, e que a economia no século XXI de modo geral gira em torno dos softwares e hardwares.
De fato essa resposta tem seu mérito, mas não é suficiente para termos um diagnóstico preciso dos eventos reais.
Na verdade, a vantagem que a China usufruiu e que lançou o país às alturas veio de uma combinação de vários fatores, mas está atrelado essencialmente a questão do seu bônus demográfico.
O bônus demográfico pode ser entendido como a janela de tempo em que um país possui a maior parte dos seus habitantes em idade produtiva, geralmente dos 15 aos 64 anos. Nessa janela de tempo, os indivíduos estão trabalhando e aprendendo novas habilidades, o que resultará numa maior prosperidade geral.
O inverso disso ocorre quando parte significativa da população se aposenta e passa a consumir a poupança acumulada. Assim, quanto maior a idade das pessoas em um país, menor deverá ser a riqueza absoluta produzida.
No geral, esse quadro culmina numa espécie de “armadilha Malthusiana”, em que o país terá milhões de bocas para alimentar, e só um punhado de pessoas trabalhando para suprir a demanda por recursos.
Feitas essas considerações, podemos então retornar à análise do caso chinês.
Embora a riqueza absoluta total produzida pelos chineses venha ano a ano se aproximando do PIB americano, é necessário pontuar que para alimentar sua enorme fábrica, a China contou até então com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, sendo que parte significativa destes eram pessoas em idade produtiva.
Agora compare o PIB percapta da China e o PIB percapta americano. Você constatará que a riqueza média de um americano é cerca de cinco vezes maior do que a riqueza de um chinês. Em termos gerais, é como se um americano tivesse para sua economia o peso que cinco chineses tem para o gigante asiático.
Mas como a China até então contava com a maior população do planeta, (1.400.000.000) isso nem sempre pareceu um problema... ao menos até agora.
E aqui vão as más notícias: Em 2050 a China terá 25% da sua população formada por idosos.
Outra previsão desafortunada declara que para cada 100 pessoas trabalhando, a China terá 45 pessoas inativas em um futuro não muito distante.
Tendo em vista a proporção já anunciada de que a China precisa da riqueza de cinco indivíduos para competir com a riqueza de um único americano, fica fácil perceber o por quê da China não poder prescindir do suor e esforços de um único operário.
O diagnóstico não é outro, senão o de que a China hoje está colhendo aquilo que ela mesma plantou, principalmente por conta da sua desastrosa política do filho único.
Até mesmo as reformas recentes introduzidas naquele país concordam com o nosso exame.
Em 2015 a China passou a ver a seriedade do problema e iniciou a política de dois filhos para cada casal. Não obstante, em 2020 os índices de natalidade continuavam a cair pelo quarto ano consecutivo.
Diante desse desafio, o Banco Popular Chinês (CNBC) publicou neste início de 2021 um chamado para que os políticos chineses revoguem todas as políticas de controle de natalidade. Para os executivos do CNBC, a liderança chinesa está em cheque, pois os americanos tem a vantagem de atrair imigração na forma de mão de obra especializada, ao passo que a Índia ultrapassará em breve a China em população e força de trabalho.
“Se meu país diminuiu a diferença com os EUA nos últimos 40 anos, contando com mão de obra barata e o bônus de uma enorme população, com o que ele pode contar nos próximos 30 anos? Vale a pena refletir sobre isso ”, escreveram os autores em chinês, de acordo com uma tradução da CNBC.
Conforme dados das nações unidas, a população chinesa deverá diminuir 2,2% até 2050, ao passo que a população americana terá um acréscimo de 15%.
E já que também mencionamos a questão imigratória, vale constar que são vários fatores que colocam a China como menos atrativa nesse quesito: barreiras linguísticas, invasão de privacidade, censura, ausência de garantias legais mínimas de que burocratas não podem decidir sumir com você sem mais nem menos... todos esses são fatores a se considerar caso você cogite trabalhar em território chinês. Inclusive, os Uigures certamente teriam uma ou duas coisas a dizer sobre isso...
Esse não é um problema que possa ser resolvido por intervenção estatal. Não basta dizer abra cadabra, demanda agregada e assim, sem mais nem menos PUF! surgiriam bebês trazidos por cegonhas impulsionadas por pacotes de estímulos do governo.
Ao contrário, o que a revogação da política do filho único demonstrou é que no atual estágio, as famílias chinesas preferem muito mais dedicar-se às suas carreiras do que despender anos na atividade maternal, simplesmente para fornecer um exército de operários para Xi Jinping no futuro.
Mesmo hoje a questão demográfica sendo o grande calcanhar de Aquiles do PCC, nem por isso devemos esquecer que o castelo de cartas chinês já apresentava muitas outras rachaduras decorrentes da impossibilidade do cálculo econômico sob o socialismo.
Recursos escassos investidos em cidades fantasmas... trens que ligam nada à lugar nenhum... esses são típicos exemplos que os socialistas gostam de fingir que não existem.
Não obstante, a taxa de desocupação de imóveis na China fica entre 10 e 20%, isso segundo dados oficiais. Estamos falando de 50 milhões de residências vazias.
Curiosamente, ainda assim os chineses continuam a comprar imóveis, o que representa muito provavelmente numa atitude desesperada contra a inflação, sendo um sintoma muito próximo do que era geralmente visto no Brasil durante os loucos anos 80.
O intervencionismo cobra seu preço. No início ele pode até fazer com que homens como Zhon Shanshan multipliquem seu patrimônio em dez vezes de um ano para o outro, mas a desastrada gestão dos recursos escassos sempre culmina em descontrole dos preços, do mesmo tipo que a China enfrentou na recente escalada de preço do carvão.
Por fim, nada depõe mais contra a desastrosa situação econômica do país do que o próprio desespero dos burocratas chineses. A ferocidade demonstrada nas relações diplomáticas, a perseguição contra empresários não alinhados, o expansionismo contra Hong Kong e Taiwan... todas essas demonstrações de agressividade mostram que Xi Jinping já sabe que o tempo está contra ele.
E pra fechar com chave de ouro, a China até o presente momento se recusa a liberar os dados populacionais do último censo demográfico, afirmando que precisam “reanalisar” os dados.
Enfim, por mais que o nosso diagnóstico aponte um futuro sombrio para as ambições chinesas, provavelmente a situação real do país é ainda pior do que qualquer um no ocidente é capaz de saber.

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