Neste início de 2021 um estudo capitaneado pela Associação Brasileira
dos Comercializadores de Energia entregou para os órgãos reguladores do setor
um estudo prevendo uma economia de 30% nas contas de energia elétrica caso
sejam implantadas medidas de abertura do mercado brasileiro de eletricidade.
Segundo o estudo, seria possível
implementar essa abertura oferecendo ao consumidor a chance de escolher os
fornecedores de energia, fazendo com que o preço seja drasticamente afetado
pelo cenário de livre concorrência.
Essa abertura não apenas traria
benefícios na diminuição dos custos da conta de luz, como até mesmo permitiria
que o consumidor escolhesse se prefere receber sua energia de fontes de energia
limpa, como solar ou eólica. Atualmente somente empresas que consomem um mínimo
de 2.000 watts usufruem dessa liberdade de contratação.
Curiosamente, esta é uma
discussão que sempre traz grandes embates entre estatistas e entusiastas do
livre mercado. Os defensores das concessões monopolistas proclamam aos quatro
ventos que o mercado por si só não é capaz de oferecer soluções viáveis para
problemas de grande escala, como seriam os investimentos em energia elétrica.
Para estes estatistas, apenas o estado outorgando concessões monopolistas
poderia trazer os incentivos para que empreendedores privados arriscassem seu
capital neste tipo de negócio.
No entanto, os estatistas ignoram
o fato de que esse modelo de mercado aberto de energia já é uma realidade em
diversos países, como Canadá, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, que a
propósito, também são países bastante conhecidos por promover um ambiente de
liberdade econômica e geração de riqueza.
No arranjo brasileiro, as
empresas envolvidas investem muito pouco em capital e usufruem de lucros
absurdos. Inclusive, especialistas em investimentos costumam apontar para as
concessionárias de energia como empresas pagadoras de gordos dividendos,
justamente porque sua posição de conforto lhes possibilita ter um caixa muito
alto enquanto que suas contrapartidas são realmente pífias.
Por tais fatores, os auto proclamados
justiceiros sociais deveriam ser os primeiros a exigir o fim desse arranjo
nefasto. Afinal, capitalistas especuladores usam dessas empresas monopolistas
como fonte de lucro fácil e quase sem riscos, e tudo isso às custas das
elevadas taxas de energia que são pagas pelas famílias mais pobres.
No entanto, não estranhe se nos
próximos dias vierem a público uma horda de partidos vermelhos condenando a
abertura de mercado do setor elétrico. Como já dito, eles precisam a todo custo
sustentar a narrativa de que você necessita do estado, e que sem a intervenção
de políticos benevolentes você estaria completamente nas trevas ou no máximo
tendo sua casa abastecida por lamparinas.
Assim mesmo, uma das irônicas
consequências é que os mesmos defensores desse arranjo perverso não perdem a
menor chance de culpar o capitalismo por todos os problemas que atingem o
arranjo vigente, que é por eles tão ardentemente defendido. Deste modo,
problemas como os que acometeram o Amapá imediatamente são anunciados pela
esquerda como sendo uma falha de mercado que precisa ser corrigida pelo estado
interventor, embora seja o próprio estado, suas licitações e estruturas
perversas de incentivos quem de fato gera todo esse cenário escabroso.
Na esteira do que já foi dito
sobre altos custos de energia, convém recordar que recentemente chegou a
circular na imprensa um quadro comparativo em que o Brasil figurava como o 37º
país que mais cobra pelos serviços de luz, o que chega ser quase inexplicável,
dado todo o potencial hídrico brasileiro.
Nas causas por detrás desse
descalabro podemos citar a desavergonhada incidência de impostos como o
PIS/COFINS, além da famosa socialização dos prejuízos, como os famosos gatos de
luz cujos custos são prontamente repassados pelas empresas para que sejam
quitados pelo consumidor comum.
Outras razões de queixa ainda
incluem a instabilidade e interrupções na distribuição de energia, o que
invariavelmente implica em prejuízos para empresas tanto em maquinário, como em
estoques que necessitam de constante refrigeração. O irônico é que as empresas
são justamente aquelas que arcam com as contas elétricas com as tarifas mais
caras, já que no Brasil é praticamente crime empreender e gerar riqueza.
Some-se a esse arranjo perverso
as constantes alterações de bandeiras tarifárias e você terá um cenário que
desmotiva qualquer um que queira empreender e calcular custos de uma forma
minimamente racional e coerente. Sim, todo esse sistema perverso de monopólios
impacta de forma infernal as possibilidades de negócios no país.
Vale menção ainda que a maldição
do setor elétrico chega a influenciar até mesmo o cenário das criptomoedas. Os
nerds de plantão que já tiveram a curiosidade de calcular os custos de investir
em mineração de bitcoin ou Ethereum sabem bem que as tarifas cobradas no Brasil
torna praticamente proibitivo o funcionamento de máquinas de mineração por
aqui.
Por todo o exposto, fica mais do
que claro que o Brasil necessita urgentemente das tão anunciadas reformas e
abertura comercial, as quais raramente saem do papel.
Caso porém esse novo projeto
realmente vingue, e se realmente as tarifas de energia tiverem um barateamento
na ordem dos 30%, esse será um claro motivo para comemoração por parte dos
amantes da liberdade.