Wednesday, May 19, 2021

Josef Stalin e a macabra ilha canibal

A história da repressão stalinista há muito tempo vem atraindo o interesse de estudiosos e do público em geral, resultando em inúmeros livros e artigos sobre o assunto.
Um dos livros mais icônicos sobre a tragédia humanitária na União Soviética foi escrito pelo historiador francês Nicolas Werth, denominado "Ilha canibal, morte em um Gulag Siberiano."
Como o próprio título já adianta, o livro aborda um dos mais perturbadores episódios da tirania socialista liderada por Stálin e seus asseclas, ocorrido na ilha Nazino na década de 1930 e que resultou em um cenário de fome tão insuportável que as vítimas do Gulag comiam-se umas as outras no desespero por falta de alimento.
Segundo registros, dois terços dos enviados para Nazino acabaram morrendo por conta das condições precárias.
Há certas linhas que definitivamente não deveriam ser cruzadas. Uma dessas é a antropofagia, que é o ato de comer carne humana.
É claro que a maioria das pessoas só optariam pela carne humana como um último recurso, num perturbador ato de desespero para salvar suas vidas. Como foi o caso dos sobreviventes do Voo Força Aérea Uruguaia 571, que caiu na Cordilheira dos Andes em 13 de outubro de 1972. Esse foi um voo fretado que transportava 45 pessoas, incluindo uma equipe de rugby, seus amigos, familiares e associados. Aproximadamente um quarto dos passageiros da aeronave morreram imediatamente após o acidente e outros sucumbiram posteriormente devido ao frio e aos ferimentos. Os sobreviventes tiveram que lidar com condições climáticas extremas, frio excessivo sem nenhum tipo de fonte de aquecimento, a mais de 3,6 mil metros de altitude. Eles passaram cerca de 72 dias na região inóspita, por isso, para sobreviver, não lhes restou opção a não ser se alimentar da carne dos falecidos.
De todo modo, a literatura médica possui farta documentação sobre as consequências desse ato tenebroso, valendo a pena citar a famosa Febre de Kuru, definida como uma doença neurodegenerativa, infecciosa, causada por um príon.
A doença foi descoberta pela investigação de uma doença que atacava uma tribo de nativos da Nova Guiné. Acontece que essa tribo era contaminada pelo príon ao realizar rituais de antropofagia, devorando o cérebro de pessoas falecidas para conseguir assimilar sua sabedoria.
Não é possível saber se a antropofagia na ilha canibal de Stálin desencadeou alguma doença desse tipo, mas o que está bem documentado é que uma vez que o consumo de carne humana começou, o cenário foi de mal a pior.
No início, as pessoas na ilha devoravam os cadáveres apenas para aplacar sua fome, mas após um tempo, também teve início a criação de gangues no território que atacavam as pessoas ainda vivas para devorar seus corpos.
A origem dessa experiência macabra veio da política soviética de isolar na Sibéria os elementos indesejáveis aos olhos da revolução.
Esses elementos incluem presidiários que precisavam ser remanejados para combater a super lotação carcerária, pessoas que violavam as restrições de circulação impostas com a política de passaportes, e também os famosos kulaks, expressão usada para identificar camponeses que eram contrários ao regime.
Ao todo, cerca de 6200 pessoas foram enviadas para Nazino, das quais dois terços morreram nesse processo, ou durante o transporte, ou por conta das condições sub-humanas que encontraram lá.
Haviam naqueles tempos diversas porções da Sibéria com pouca ou nenhuma ocupação humana e os comunistas planejaram promover o povoamento da região, com vistas a se beneficiar do futuro cultivo agrícola.
Mas na maior parte das vezes, as pessoas escolhidas pelo regime eram as mais inadequadas para servir como mão de obra rural.
Conforme Hardy Werth, os comissários do partido comunista enviaram para lá pessoas inválidas, idosos e até mesmo uma menina de doze anos que foi encontrada esperando a mãe numa estação de trem. Assim, muitas dessas pessoas eram mais bocas à alimentar do que mão de obra produtiva.
Para a maioria de nós, ao tomar conhecimento destes atos terríveis, fica até difícil imaginar o porquê de tantas ações macabras e completamente sem sentido.
Uma possível explicação para essas detenções absolutamente sem critérios é oferecida pelo historiador Alexandre Soljenítsin, autor do livro Arquipélago Gulag e ganhador do prêmio Nobel de literatura.
Segundo Soljenítsin, haviam metas de prisões a serem cumpridas pelos oficiais comunistas, e dada a maquiavélica cadeia de incentivos, as forças de segurança acabavam por selecionar seus alvos de forma completamente aleatória e arbitrária, mesmo inclusive entre cidadãos comuns que jamais deram qualquer motivo para detenção.
Para Soljenítsin, havia muito pouca resistência oferecida por essas vítimas pois elas simplesmente acreditavam que tudo era um engano e que o mal entendido seria posteriormente resolvido.
Porém, conforme podemos confirmar através dos relatos de mortes entre os condenados apresentados no livro de Hardy Werth, no fim das contas muitas dessas pessoas inocentes sequer tiveram a oportunidade de saber o motivo de estarem sendo presas.
Eis um fato intrigante que vale a pena enfatizar: a doutrina comunista combatia ferozmente a crença religiosa, mas ironicamente, ao mesmo tempo os discípulos de Marx mostravam uma fé absoluta em seus próprios planos mirabolantes de reforma social.
E por mirabolantes, estamos falando do envio de pessoas para ocupar a Sibéria recebendo no máximo um punhado de farinha que eles teriam de misturar com a água do rio para poder cozinhar.
E se não bastasse, os prisioneiros ainda eram fustigados pelos guardas da ilha, que agiam da forma mais abjeta, extorquindo roupas dos colonos e até atirando em alguns por simples esporte.
Infelizmente, essa não era a primeira nem a última vez que o comunismo provocaria cenas de fome e canibalismo. Conforme o historiador britânico Orlando Figes documenta, as mães, para alimentar os seus filhos, decepavam os membros de cadáveres e ferviam a carne; as pessoas alimentavam-se dos seus próprios parentes, e, com frequência, até mesmo bebês, já que eram menos resistentes à fome e às doenças, além de possuir uma carne mais macia.
Talvez em algum momento você já tenha se perguntado sobre a origem daquele dito popular que diz que comunistas comem criancinhas... bem... agora você já sabe a origem dessa lenda urbana, que infelizmente revelou-se como sendo muito mais do que uma mera anedota.
Quantas vezes esses episódios vergonhosos ocorreram? Bem, isso é difícil dizer, mas somando a grande fome dos anos 1921 e 22, com o processo de coletivização das fazendas ucranianas e episódios tais quais os da ilha Nazino que ocorreram em 1933, só podemos infelizmente constatar que tais atos odiosos foram bem mais que meras eventualidades.
O experimento da ilha canibal de Stálin é antes de tudo a demonstração da futilidade e o fracasso definitivos do planejamento na União Soviética.
Embora estivessem operando uma máquina de moer carne humana, as autoridades soviéticas tomavam as taxas de mortalidade extraordinárias como mero contratempo da marcha histórica em direção ao comunismo.
Vale lembrar que essa marcha histórica era impulsionada pela fé na ciência e no progresso, e considerada como um sacrifício necessário na luta implacável pela revolução.
Mas isso em nada absolve os tiranos soviéticos. Na verdade, os maiores absurdos já realizados pelo ser humano foram constantemente justificados como sacrifícios em nome de um bem maior.
Curiosamente, nós temos visto nos últimos tempos um fortalecimento desse discurso conhecido como autoritarismo necessário. E infelizmente os libertários tem constituído uma das poucas vozes a se levantar contra essa marcha rumo ao abismo.
De qualquer forma, resta evidente que nenhuma tirania deve ser tolerada, por mais que os tiranos proclamem estar agindo em nome da coletividade e do interesse público.
Enfim, desde Karl Marx e sua pretensa luta em favor dos trabalhadores, até os revolucionários russos e seu alegado combate aos privilégios dos ricos, toda essa gigante montanha de boas intenções foram sucedidas dos atos mais bárbaros que a humanidade já viu.
E o mais incrível é que tudo isso poderia de antemão ser evitado, se tão somente as pessoas envolvidas tivessem dado ouvidos à magistral advertência que Mises escreveu já no início da década de vinte, sobre as falhas do modelo econômico do socialismo.
Mas não somente suas advertências foram ignoradas, como até hoje há quem procure reaproveitar a proposta socialista na Venezuela, na Nicarágua, em Cuba, China e Coreia do Norte.
E como a ameaça do socialismo continua a bater nas nossas portas, cabe a nós apresentar resistência em todas as frentes possíveis e com todas as armas ao nosso alcance, sob pena de, por nossa inércia, sermos reduzidos futuramente a um estado famélico e deplorável de abjetos canibais.


https://www.youtube.com/watch?v=_sLNBQDBVqk
https://networks.h-net.org/node/10000/reviews/10320/hardy-werth-cannibal-island-death-siberian-gulag
https://portaldeprefeitura.com.br/2021/03/04/artigo-comunistas-comem-criancas-as-historias-por-tras-do-mito-por-jason-medeiros/
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/da-insalubridade-escassez-de-comida-5-fatos-sobre-caso-nazino-ilha-canibal-de-stalin.phtml
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2701200816.htm
https://www.infoescola.com/doencas/febre-de-kuru/

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