Thursday, April 25, 2019

Cersei Bolsonaro, Jair Lannister e Carlos, o rei louco.

    Em game of thrones, Cersei Lannister é uma rainha que tem duas prioridades em sua jornada, seus filhos e o poder.
    No Brasil, Jair Bolsonaro é um político que tem duas prioridades em sua jornada: seus filhos e o poder.
    As similaridades entre as duas figuras saltam aos olhos para qualquer um que acompanhe a política do Brasil e de Westeros, e isso, infelizmente, não é um elogio.
    No princípio de seu reinado, Cersei se depara com alguns desafios políticos, principalmente pela dificuldade em controlar sua prole, no caso, Joffrey Baratheon, que toma decisões políticas que vão deixar todos em apuros, como já diria o clássico narrador da sessão da tarde.
    Toda a crise no governo tem início nas consequências do julgamento de Ned Stark. O citado lorde seria beneficiado por um acordo nos bastidores políticos para escapar da pena de morte e ser mandado para a muralha, no entanto, Joffrey em seu ímpeto juvenil ignora todo o tear político e ordena a decapitação do lorde, enfurecendo todas as casas nortenhas que agora declaram seu território independente escolhem para si um outro rei.
    No caso brasileiro quem faz as vezes de Joffrey é Carlos Bolsonaro. Ao tomar para si as rédeas do reino, Carlos consegue em pouco tempo desestabilizar as já frágeis alianças que dão suporte à presidência, com efeitos pragmáticos que em nada ajudam na boa condução da política. A problemática mais recente coloca em polos antagônicos Carlos e o vice presidente Amilton Mourão, todo esse imbróglio decorrendo de um temor de que na verdade Mourão esteja ambicionando o trono.
    Em game of thrones situação bem semelhante se apresenta. Joffrey é o tipo de personagem que caso seja seu aliado, você não precisará de inimigos. Ele é capaz de seguidamente desafiar seu tio Tyrion, seu avô Tywin e quem mais ele julgue estar diminuindo sua posição como monarca. Ao final, Joffrey acaba traído e morto pela família da esposa, que eram na verdade "aliados" que julgavam que Joffrey não faria falta à ninguém.
    Tal qual acontece com Cersei, Jair Bolsonaro as vezes até tenta uma postura mais sóbria, mas acaba tomando partido da sua própria linhagem, as vezes em prejuízo do próprio reino. O mais estranho em tudo isso é ver como Bolsonaro na condição de chefe temporário da política do Brasil acaba demonstrando todos os vícios de uma realeza insensata dos domínios da ficção.
    As relações dos dois governantes com a religião também é emblemática. Bolsonaro fez da bancada evangélica uma de suas armas para enfrentar as resistências a seu projeto de poder. Já Cersei reergueu a fé militante, a qual ela presumia servir de importante apoio para o trono. O fim das duas histórias também converge, já que numa os deputados religiosos acreditaram que sua pauta de costumes era preterida pelo governo e já deixaram de oferecer aquele suporte inicial que Bolsonaro julgava poder contar, e agora um de seus integrantes também se tornou protagonista de outro episódio ácido envolvendo um pedido de impedimento contra o vice-presidente. Já em Westeros a fé militante acabou se voltando contra a própria rainha, aprisionando-a e exercendo sobre ela poder de vida e de morte.
    Chama a atenção também a dificuldade que os dois polos possuem para formar uma base aliada. Como já foi falado, Cersei tem um talento especial para fazer de seus aliados inimigos, e sua mania de perseguição a coloca em problemas com aqueles que supostamente estão do mesmo lado. Já Bolsonaro atualmente se encontra em meio a um fogo cruzado de Olavo contra os militares, os militares contra Carlos, Carlos contra todo mundo e em meio a tudo isso parece que o único que ganha é o centrão Petyr Baelish.
    Talvez Westeros tenha algumas boas lições para ensinar. O reino ficcional já foi governado por vários reis loucos e insensatos, a exemplo do próprio rei Robert que não julgava ter nascido para reinar. Apesar disso, quando pessoas despreparadas como Robert estavam no trono o reino ainda era capaz de prosperar, adotando uma solução de descentralização do poder, compartilhando decisões importantes com o pequeno conselho e a mão do rei, espécie de primeiro ministro de Westeros.
    Itamar Franco foi um governante que fez bom uso desse artifício, escolhendo uma equipe muito bem preparada para as reformas que o país precisava. Mas teria Jair Bolsonaro esse grau de sensatez?

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