Friday, May 3, 2019

As estatísticas da homofobia estão te enganando.

    Recentemente o portal LIHS Liga humanista secular do Brasil apresentou um trabalho de revisão das estatísticas propagadas sobre a criminalidade contra a população LGBT, ou crimes de homofobia, como são conhecidos.
    A revisão conseguiu apontar várias inconsistências. Quem primeiramente traz as estatísticas é o Grupo gay da Bahia, dados estes que são replicados pela imprensa, propagandas políticas e até organismos internacionais. Em que pese toda essa credibilidade a LIHS conseguiu demonstrar que os dados acabam atingindo um índice de veracidade apenas de 9%.
    São diversos os problemas com os números do GGB, começando do fato de que a motivação para os crimes nem sempre é clara. Citando diretamente o artigo, podemos constatar diversas incorreções:
* um casal heterossexual supostamente viciado em drogas foi assassinado por um traficante no Ceará. Aparentemente, o caso foi incluído pelo GGB somente porque a manchete omitiu o sexo da mulher, dando a entender erroneamente que poderia ser um casal gay.
* Dos 347 casos de 2016, foram excluídos 30 da análise por serem mortes no exterior, casos duplicados ou casos em que foi impossível recuperar as fontes. Dos que sobraram, 20 casos são suicídios.
* Quanto ao suicídio, é evidente que, nem sempre que um LGBT se mata, é possível afirmar que a causa primária de sua decisão é a homofobia. Suicidas geralmente sofrem de depressão, que é em si a causa imediata de sua morte. Certamente é um tema importante descobrir com que frequência a homofobia causa depressão e suicídio, mas é quase sempre impossível separar suicídios motivados por homofobia de suicídios de LGBT motivados por outros problemas, ao menos que haja alguma evidência como uma carta de despedida em que o suicida o diz explicitamente.
* Além dos suicídios, foram excluídos também casos cuja inclusão no estudo original é inexplicável: seis mortes acidentais, o afogamento do diretor de teatro Glauber Teixeira, um caso de agressão em que a vítima sequer morreu (a estatística é sobre mortes), um caso de morto em incêndio sem suspeita de crime, doze mortes suspeitas em que não é possível afirmar que houve crime, uma overdose, entre outros.
* Outros casos incluídos são flagrantemente não motivados por homofobia. Fabiana Braz Conceição e Daniella Silva Gomes, um casal, foram mortas a tiros numa moto porque eram traficantes e disputavam com outros traficantes o controle do tráfico em sua região em Goiânia.
    Dos casos colhidos na imprensa pelo GGB, foi possível concordar somente que 31 casos foram mortes motivadas pela homofobia no Brasil. Isso significa que o relatório errou em 88% dos casos de homicídio, e que somente 9% dos dados totais para o ano de 2016 servem para fazer as conclusões que o grupo e a imprensa que o cita fazem.
Dados extraídos de:
https://lihs.org.br/sociedade/homofobia/

    Como mencionado anteriormente, a gravidade da situação reside em que estes dados do grupo gay da Bahia são adotados como estatísticas oficiais em projetos de governo, na mídia nacional e internacional, e até em organismos como a ONU. O The New York Times já chegou a noticiar a existência de uma epidemia anti-gay no Brasil, dentre outras reportagens que declaram haver um risco inerente para esse público ao viajar para o Brasil.
    Se não fosse suficiente criar uma narrativa artificial de demérito para o Brasil no exterior, as estatísticas são repetidas ad nauseam nos comícios e nas propagandas eleitorais, aparecendo inclusive na confrontação da bancada do jornal nacional para interpelar o então candidato Bolsonaro sobre políticas que deveriam nortear a administração do Brasil, já que os crimes por homofobia estariam matando uma pessoa gay a cada 19 horas.
    As constatações da LIHS não são as primeiras nem as únicas a perceber o mar de manipulação envolvendo este tipo de estatística. Em uma breve pesquisa em motores de busca pudemos encontrar publicações com conclusões parecidas, dentre elas:
Aos fatos;
https://noticias.uol.com.br/confere/ultimas-noticias/2018/06/27/manuela-davila-exagera-ao-falar-de-homofobia-e-acerta-sobre-creches.htm
Felipe Moura Brasil/Jovem Pan;
https://jovempan.uol.com.br/opiniao-jovem-pan/comentaristas/felipe-moura-brasil/felipe-moura-brasil-jornal-nacional-deveria-se-corrigir-sobre-dado-apresentado-em-sabatina-de-bolsonaro.html
O Globo;
https://blogs.oglobo.globo.com/eissomesmo/post/checamos-verdades-e-mentiras-sobre-homofobia-e-comunidade-lgbt.html
Agência pública Brasil;
https://apublica.org/2018/08/truco-dados-sobre-assassinato-de-lgbts-sao-incompletos/
Agência Lupa;
https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2017/05/17/dia-internacional-combate-homofobia-transfobia-gay/
    Acessando a matéria da agência lupa você poderá perceber que algumas das checagens são apresentadas como verdadeiras por se apoiarem justamente nas estatísticas do GGB, o que é totalmente problemático. Além de tudo, se tomados como verdade os números colocariam a militância política em apuros maiores do que eles podem imaginar. Observe-se os números de crimes de homofobia relatados pelo GGB no link da agência lupa em anos distintos: 2016 343; 2010 260; 2000 130.
Haveria portanto a necessidade de questionar a razão por detrás da piora nos índices, por tratar-se de período de viés marcadamente progressista, senão vejamos:
* nesse período tivemos governos petistas na maior parte do tempo 2002 à 2016;
* O STF nesse período legalizou a união homoafetiva;
* LGBT's puderam utilizar nomes sociais em órgãos públicos;
* o primeiro beijo gay foi exibido em horário nobre na maior emissora do país.
* o período foi marcado por intensos debates no legislativo sobre uma legislação LGBT com a atuação de um deputado abertamente gay e militante, fato até então inédito no Brasil.
    Isso posto, o período 2000/2016 encerraria um paradoxo... seria impossível determinar se políticas progressistas estão facilitando ou dificultando a vida do próprio público alvo.
    Fora o problema com as estatísticas, chega a ser quase impossível defender certas publicações da mídia da acusação de militância partidária e fraude. Um caso ilustrativo é o do adolescente Peterson Ricardo de Oliveira, de 14 anos, cuja morte foi amplamente noticiada como sendo de homofobia, para ser logo depois desmentida, como se pode atestar nos links abaixo:
Morte de filho de casal gay em SP reafirma a importância da educação para a diversidade
https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2015/03/morte-de-filho-de-casal-gay-reafirma-a-importancia-do-combate-a-homofobia-nas-escolas-2708.html
Portal Vermelho: Contra homofobia, CTB quer rigor na apuração da morte de garoto em SP
http://vermelho.org.br/noticia/260402-8
Morre filho de casal gay agredido em porta de escola - Notícias - R7 ...
https://noticias.r7.com/sao-paulo/morre-filho-de-casal-gay-agredido-em-porta-de-escola-12032015
Morre adolescente que teria sido agredido por ter pais gays
https://oglobo.globo.com/brasil/morre-adolescente-que-teria-sido-agredido-por-ter-pais-gays-15548933

    Agora a retratação:
Laudo aponta que filho de casal gay morreu de causas naturais, diz polícia
http://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2015/03/laudo-aponta-que-filho-de-casal-gay-morreu-de-causas-naturais-diz-policia.html
Laudo nega homofobia e diz que Peterson teve morte natural
http://www.esquerdadiario.com.br/spip.php?page=gacetilla-articulo&id_article=292
    O link do esquerda diário demonstra absoluta convicção de que o laudo mente, que a morte foi provocada por uma agressão, e que a agressão foi efetivada por que os pais do garoto eram gays. Tanta convicção só pode vir da estatística de que o Brasil pratica um crime de homofobia a cada 19 horas, mesmo a estatística sendo obviamente insustentável.

    Para nós adeptos da ética libertária não há relativismo. Um assassinato é um assassinato, uma violação da ética é uma violação da ética. Quando você tira a vida de um indivíduo pacífico você deve ser condenado, quiçá com a pena de morte, independentemente do seu crime ser contra uma pessoa trans ou não. Infelizmente, uma defesa tão incisiva do direito de todos não serem agredidos não é compartilhada por muitos defensores de minorias, e se você afirmar a obviedade que todas as vidas importam você pode ser ridicularizado e sofrer algum tipo de agressão por não andar segundo a cartilha.
    Ainda assim, o Brasil é um país com 60 mil assassinatos por ano, e só um milagre seria capaz de impedir que essa onda de violência fira alguma minoria pelo caminho. Agora, se há uma solução para o problema da violência, (alguma solução mais confiável que as estatísticas da GGB), então que se adote urgentemente essa solução em favor da menor das minorias, o indivíduo.
    Para os adeptos do "vamos criar uma lei", sugiro que o código penal passe a prever para a lesão corporal a pena de 400 anos de prisão cumulada com multa seguida de morte, com acréscimo de 232% em caso de reincidência.

links mencionados:
Após dizer que ‘todas as vidas importam’, David Brazil tem carro riscado com a palavra ‘racista’
https://conexaopolitica.com.br/ultimas/apos-dizer-que-todas-as-vidas-importam-david-brazil-tem-carro-riscado-com-a-palavra-racista/

#loveislove: É verdade que ‘um LGBT é assassinado no Brasil a cada 25 horas’?
https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2017/05/17/dia-internacional-combate-homofobia-transfobia-gay/

Dados sobre assassinato de LGBTs são incompletos
https://apublica.org/2018/08/truco-dados-sobre-assassinato-de-lgbts-sao-incompletos/

Checamos verdades e mentiras sobre homofobia e a comunidade LGBT
https://blogs.oglobo.globo.com/eissomesmo/post/checamos-verdades-e-mentiras-sobre-homofobia-e-comunidade-lgbt.html
Felipe Moura Brasil: Jornal Nacional deveria se corrigir sobre dado apresentado em sabatina de Jair Bolsonaro
https://jovempan.uol.com.br/opiniao-jovem-pan/comentaristas/felipe-moura-brasil/felipe-moura-brasil-jornal-nacional-deveria-se-corrigir-sobre-dado-apresentado-em-sabatina-de-bolsonaro.html


Homofobia mata
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2019/02/homofobia-mata.shtml
Manuela exagera sobre Brasil "campeão" de homofobia e acerta sobre creches
https://noticias.uol.com.br/confere/ultimas-noticias/2018/06/27/manuela-davila-exagera-ao-falar-de-homofobia-e-acerta-sobre-creches.htm

Principais estatísticas brasileiras de morte por homofobia são falsas, conclui checagem
https://lihs.org.br/sociedade/homofobia/

LGBT travelers to Rio for Olympics need to be careful
https://www.outsports.com/2016/7/7/12110164/lgbt-travelers-to-rio-for-olympics-need-to-be-careful

Brazil Is Confronting an Epidemic of Anti-Gay Violence
https://www.nytimes.com/2016/07/06/world/americas/brazil-anti-gay-violence.html

Com apoio da ONU, 2º Festival Internacional de Cinema LGBTI começa na quinta-feira (22) em Brasília
https://nacoesunidas.org/com-apoio-da-onu-2o-festival-internacional-de-cinema-lgbti-comeca-na-quinta-feira-em-brasilia/

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