Thursday, June 6, 2024

A direita é poderosa e veio para ficar

Há muito mais brasileiros de direita do que de esquerda, segundo resultados recentes da pesquisa IPEC. Segundo consta, a quantidade de brasileiros que se identificam com a direita é basicamente o dobro do número dos que se identificam com a esquerda.

Como não poderia deixar de ser, o levantamento gerou uma certa consternação entre os brasileiros, chegando a suscitar algumas questões pertinentes: Será que de fato a direita tem sido tão mais eficiente em capturar a preferência do nosso eleitorado? E caso positivo, como se explica a recente eleição do presidente Lula?

Ora, apesar do presidente da república possuir o cargo de maior visibilidade nacional, podemos olhar para as recentes legislaturas do congresso para ter uma ideia mais precisa da variação da preferência política dos brasileiros.

Observemos alguns dados coletados pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Essa entidade acompanha as mudanças no cenário político do congresso, fornecendo um ponto de partida para entender a situação nacional.

Em 2014, o Diap identificou uma redução significativa de cerca de 50% no número de deputados ligados ao movimento sindical. Essa diminuição foi acompanhada por um aumento no número de religiosos, militares e outros políticos que não se alinhavam com o petismo. Além disso, houve uma mudança substancial em questões de costumes, com menos apoiadores de políticas de ideologia de gênero e um aumento daqueles que se opunham a essas políticas.

Não há dúvida de que a base petista perdeu força no congresso durante essa legislatura. O mesmo congresso eleito em 2014 foi responsável pelo impeachment de Dilma Rousseff e pela aprovação da reforma trabalhista sob a liderança de Michel Temer. E essa tendência continuou em 2018, não apenas no congresso, como no próprio Poder Executivo.

Se voltarmos nossa atenção para as últimas duas décadas, veremos que em 2002 o PT conseguiu eleger um total de 91 deputados, sendo este justamente o contexto de auge do governo Lula1. Porém, já nas legislaturas seguintes esse número foi decaindo, até chegar ao ponto de ser ultrapassado pelo PL em 2022 na quantidade de deputados eleitos.

Podemos supor que embora representando uma realidade amarga, a esquerda ainda assim poderia lidar bem com a realidade de ter perdido a liderança no congresso. Afinal, ela poderia sustentar que ainda permanece sendo a voz dos pobres e desalentados. Certo?

Errado!

Conforme uma pesquisa da insuspeita Fundação Perseu Abramo (ligada ao Partido dos Trabalhadores) em 2017 a periferia em peso manifestou uma nítida preferência pela direita. A pesquisa ainda apontou que predominavam na periferia os valores de família e religiosidade, além de uma tendência ao empreendedorismo.

A política não é o único campo de embate entre as duas correntes. A internet também deu voz aos conservadores e adeptos da economia de mercado, popularizando a agenda liberal, a ponto de verificarmos uma dose substancial de resistência ao intervencionismo estatal, como no repúdio dos motoristas de aplicativo aos projetos que visavam disciplinar o exercício da profissão.

Todos esses fatos poderiam ser subdivididos em inúmeras questões, as quais não seria possível responder no curto espaço deste texto. Todavia, parece que o que temos até aqui é suficiente para sustentar a conclusão de que a esquerda de fato está em tendência de queda, ao passo que com a direita ocorre o inverso.

E isso nos leva de volta ao caso Lula...

Independente de qualquer crítica que as pessoas possam ter em relação a Lula, o fato é que Lula é um político habilidoso, muito mais do que qualquer outro brasileiro de nosso tempo. Seu carisma como liderança lhe garantiu a vitória nas últimas eleições que participou, conseguindo até mesmo eleger Dilma Rousseff, por mais que a essa o carisma faltasse.

Não obstante, Lula também enfrenta uma notória queda de popularidade, e sua promessa de pacificação do país não se concretizou. Pelo contrário, pois a cada fala do mandatário vemos uma inexorável torrente de críticas, principalmente quando o tema é Israel (tópico este bastante delicado em razão da religiosidade local).

Lula pode ser um gigante, capaz de levar um partido nas costas. Mas pouco adiantará se esse partido não puder sustentar-se com as próprias pernas, pois esse gigante não estará aqui para sempre.

Neguem o quanto queiram, mas o desdobramento está claro e o resultado não tem como ser outro: o velório de Lula também será o velório da esquerda nacional.

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