Thursday, March 14, 2019

O massacre em Suzano, o Bullying e o fracasso do modelo pedagógico estatal.

    São poucos os episódios que afloram tanto as paixões humanas como um massacre ocorrido numa escola contra indefesos. O instinto materno/paterno nos induz a pensarmos como partícipes da tragédia e em meio a esse turbilhão emocional se diz muito, se acusa muito, e muitas vezes de forma nada salutar.
    É diante de um desses contextos que tentamos lançar alguma luz sobre o ocorrido na escola Raul Brasil no município de Suzano, no qual infelizmente dois indivíduos deixaram um rastro de morte e destruição antes de dar cabo das próprias vidas.
    Eu poderia simplesmente concordar que é cedo para vaticinar algo sobre o ocorrido. Eu poderia concordar que uma análise mais minuciosa seria bem-vinda depois de passado todo o sentimento de luto e depois de transcorridos os atos investigativos... eu poderia dizer tudo isso mas não posso, e a culpa disso é de políticos e suas militâncias, os velhos e sórdidos abutres que enxergam cadáveres como angariadores de votos.
    Infelizmente esse cenário de comoção é  propício para que políticos lancem as propostas menos racionais e que vão refletir negativamente sobre os direitos naturais de indivíduos pacíficos, e portanto faz-se mister que suas fantasias loucas sejam atacadas e prontamente refutadas.

    Para uma análise acertada do ocorrido, em primeiro lugar é imprescindível que o debate se atente ao fator nexo de causalidade. Praticamente tudo o que é dito ou ignora as relações de causa e efeito, ou tenta incutir a existência de um nexo de causalidade entre condições completamente independentes.
    Um pouco do que eu estou criticando pode ser visto aqui:

Antes do massacre em Suzano, Bolsonaro disse que só dorme com arma ao lado

No mesmo dia do massacre de Suzano, Bolsonaro anuncia que vai flexibilizar porte de armas


    Curiosamente a defesa do estatuto do desarmamento é mais apaixonadamente defendida quanto mais o estatuto do desarmamento falha.
E a situação vai piorando quanto mais notória for a linha socialista da publicação...

Atirador de Suzano idolatrava armas e apoiava Bolsonaro


    Mas a coisa não melhora muito quando quem opina representa o espectro político da direita. Veja:

Mourão relaciona massacre a jogos de videogame: “Garotada viciada”


Ataque seria evitado se professor estivesse armado, diz Major Olímpio



    Algumas das afirmações acima podem ser prontamente descartadas utilizando-se raciocínios básicos, mesmo porque as teses neles defendidas não possuem lá um grande primor intelectual. A associação dos assassinos com apoiadores de Bolsonaro é uma das que não resiste ao menor escrutínio.
    Há uma série de problemas em criar este tipo de associação. Primeiramente, a afirmação "um crime foi cometido por indivíduo X ligado a partido Y" só é vista como prova de alguma coisa quando esse partido Y é o partido do adversário, e isso é muito fácil de se constatar. O caso Adélio Bispo é efetivamente um exemplo do que ilustramos.
    Não só isso, mas essa associação entre grupos e indivíduos só é autorizada se o grupo em questão não for um daqueles protegidos pela política de ocasião.
    Veja por exemplo a matéria:

Episódios de estupro fazem Europa criar cursos para educar refugiados


    Pergunta-se: acaso a militância que tenta associar o crime na escola de Suzano com o apoio a Bolsonaro estaria igualmente disposta a fazer a associação entre refugiados e crimes de estupro? Acho que não.
    O mesmo pode ser dito de muitas outras associações porcamente apresentadas no episódio de Suzano. A tentativa de conectar jogos de videogame com a prática de um delito é das proposições mais rasas e perigosas que se pode fazer.
    O que de fato não pode ser ignorado é que a estatística no melhor dos casos pode ser uma aliada traiçoeira. Observe a discrepância do que se pode discutir tendo por base a estatística quando o assunto é o estatuto do desarmamento:

ESTUDO DO IPEA MOSTRA EFICÁCIA DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO


    Agora compare com a matéria

Após o Estatuto do Desarmamento, homicídios com uso de arma de fogo são os que mais crescem


    Seria possível chegar a alguma conclusão objetiva baseando-se em informações estatísticas das propostas acima? Obviamente que não.
    O viés empirista não é capaz de oferecer uma resposta objetiva para problemas como os que enfrentamos em Suzano. Tome por base a declaração do Major Olímpio de que essa tragédia seria evitada com uma arma conforme lido em:

Major Olimpio diz que tragédia seria evitada se professores estivessem armados.

    Ora, pelo critério da empiria esse não é sequer um resultado cognoscível! Seria preciso testar (ou falsear pra usar o termo mais técnico) esse tipo de proposição empírica. Porém, a sociedade não é um laboratório onde você pode replicar as condições presentes no massacre e coletar uma evidência empírica sobre resultados que se apresentariam mediante a introdução de uma ou outra variável.
    Não se quer com isso descartar a segurança armada como possível resposta para o problema analisado, mas sim queremos enfatizar que essa abordagem empirista possui diversas falhas inerentes.

    Então devemos afastar as pretensões de chegarmos a uma resposta correta pela empiria e estatística e derivar as únicas conclusões confiáveis diretamente da lógica. Volta a baila o bom e velho nexo de causalidade.
    Façamos uma apreciação lógica de algumas proposições.

Proposição: Se os criminosos não tivessem acesso a nenhum tipo de arma, então a tragédia não ocorreria.
Resposta: esta proposição só está correta se por "arma" estamos considerando todo instrumento capaz de perfurar, cortar, esmagar, queimar, sufocar, eletrocutar... ou seja, a verificação de que esse resultado só seria atingível num contexto quase impossível (um cenário onde os autores sequer tivessem acesso a facas de cozinha) já basta pra descartarmos esta como uma hipótese válida.

Proposição: Se os professores estivessem armados esta tragédia não aconteceria.
Resposta: Como vimos no problema da empiria, essa hipótese não é possível de se testar, então resultados melhores ou piores do que o observado não são conclusivamente dedutíveis.
    Agora modifique um pouco a proposição acima.

Proposição: A ação criminosa de um mau elemento usando uma arma só pode ser impedida por um bom elemento usando uma arma.
Resposta: Como apontamentos da primeira proposição, verificamos que o resultado "impedir o completo acesso a armas" não é sequer um resultado factível, então partindo do princípio de que o criminoso estará armado, então é correto dizer que esse indivíduo somente pode ser impedido por meio de algum mecanismo de auto defesa. A hipótese de legítima defesa é então tanto mais factível quanto for adequado o instrumento de defesa à disposição da vítima.
    Veja-se que não se derivou a conclusão: uma arma teria impedido a chacina, mas derivamos logicamente que, entre todos os cenários, até agora o mais factível está do lado de uma autodefesa efetiva através de uma arma de fogo.
    Tome por comparação um outro episódio também ocorrido numa escola, o protagonizado pela cabo Katia da Silva Sastre. Este é claramente um exemplo de uma autodefesa efetiva onde quaisquer resultados de perca de vidas de inocentes foram afastados graças a utilização de uma arma como meio para legítima defesa.
    Como viemos desenvolvendo, não é possível afirmar de forma objetiva que a presença da cabo Katia da Silva Sastre na escola de Suzano evitaria o ocorrido.
    No entanto, é seguro dizer que sempre que presentes aquelas variáveis, (pessoas fortemente armadas invadindo um colégio), se esses marginais sempre encontrarem o ambiente totalmente desprotegido, então sempre o resultado pior se verificará.
    Portanto é possível contrastar as seguintes opções:

* escolas desprotegidas onde o meliante sempre tem toda hipótese de realizar todo o mal que tiver em mente.
* escolas razoavelmente protegidas em que há ao menos a hipótese do agressor ser impedido por uma pessoa armada.

    Seguramente diante dessas hipóteses acima eu sempre escolheria a segunda alternativa.
    Na verdade, por mais que os militantes do desarmamento não estejam dispostos a admitir, qualquer pessoa que soubesse que seu filho está à mercê de um desses meliantes recorreria imediatamente à polícia, o que equivale a dizer que eles optariam por usar uma defesa armada contra uma possível agressão.

    Agora respondamos: quem são os responsáveis por impedir o cidadão de utilizar de todos os meios de legítima defesa própria e de sua respectiva família? Políticos. Estes querem fazer valer seus conceitos defasados e dogmáticos sobre como armas são inerentemente ruins e escolas são lugares onde o poder público promove a socialização e a cultura, sendo que nada poderia estar mais longe da realidade.

O problema do Bullying

    Caso houvéssemos de usar uma única palavra pra descrever a variável que julgamos como a mais definitiva para problemas como o de Suzano, essa palavra seria Bullying.
    Se em diversos episódios o Bullying é determinante para a motivação dessas tragédias, (e ele é), então é nesse ponto que devemos focar e saber o que pode ser feito a respeito.
    Partindo do princípio que seria possível afastar a variável Bullying, então o resultado "crime" não deveria ser observado.
    Naturalmente que estamos tratando de seres humanos, então o resultado crime poderia aparecer graças a outra variável, uma patologia mental do criminoso, por exemplo, mas o cenário onde os melhores resultados são esperados efetivamente decorre da exclusão da variável Bullying.

Mas como alguma meta contra o Bullying poderia ser atingida?

    É certamente mais fácil principiarmos por responder quais medidas serão completamente inócuas para o enfrentamento desse problema. A adolescência é o período que o comportamento humano mais se aproxima do comportamento dos nossos primos chimpanzés, e não há nada que os filósofos do cor-de-rosa possam fazer a respeito... palestras, atividades de grupo, reuniões, petições na avaaz, subir uma hashtag no twitter ou cantar We Are the World... nenhuma dessas medidas é efetiva para fazer um moleque de 14 anos não agir como um moleque de 14 anos.

    Data maxima venia um breve parêntese para um comentário pessoal, (algumas de minhas piores experiências vem justamente desse período escolar do ginásio, e recorrer aos responsáveis pela instituição escolar não ajudava em nada no melhor dos casos, e piorava no pior deles).

    O fato é que todos esses conhecimentos teóricos e empíricos fazem concluir indubitavelmente que a última coisa que pode ser considerada saudável é enclausurar numa sala 40 indivíduos no auge da tendência primata e deixar que só os alfas se safem, pois é exatamente isso que os primatas (incluso humanos) fazem.
    O modelo escolar e curricular vigente hoje não deve ser reformado, o modelo escolar e curricular vigente hoje deve ser extinto. Outras soluções devem surgir, e algumas até já surgiram. É o caso do Homeschooling, de qual modelo sou manifesto entusiasta e do qual poderia elencar motivos inúmeros pra sustentar esta posição, mas isso infelizmente tomaria um grande espaço e demanda um texto a parte.

    Ainda assim podemos desenvolver uma breve tese: se um episódio desses de massacres em escolas apresentasse um número de 100 potenciais vítimas, e ocorresse de pelo menos uma delas ter optado na semana anterior pela adoção do homeschooling, então o número potencial de vítimas diminuiria. Conquanto em nosso exemplo ainda existiriam quase uma centena que poderiam sofrer violência, o êxito em conseguir ao menos diminuir o fatídico banho de sangue já é em si mesmo um resultado mais desejável que o seu oposto.
    Postas essas variáveis, quanto maior fosse a proporção de alunos optantes pelo modelo homeschooling, menor seria a proporção de potenciais vítimas confinadas em prédios do governo sem nenhuma proteção.
    Há ainda um enorme benefício se a metodologia homeschooling fosse adotada pelos pais dos próprios atiradores. Se dos nossos mesmos 100 alunos hipotéticos houvesse pelo menos um optante pelo modelo de ensino domiciliar, e esse fosse justamente um dos alunos que fez uso de violência após o Bullying, então teríamos excluído justamente a variável determinante (Bullying) para a ocorrência dos crimes.

Conforme verificamos, nossas explanações permitiram identificar diversas razões para interpretar as variáveis determinantes para a ocorrência de massacres em escolas como sendo intimamente ligadas aos fenômenos de socialização. destas premissas pudemos apontar o Homeschooling como uma efetiva resposta contra os fatores que possibilitam esta espécie de evento. Fomos capazes de apontar o enclausuramento escolar como um fator que se propõe solucionar diversos problemas sociais, mas que acaba na prática tendo diversos efeitos adversos que não são levados em consideração pelos estatistas.
Por não pretender ser exaustivo, o texto não abordou aspectos puramente pedagógicos que seriam de interesse na discussão sobre o homeschooling, mas enfatizamos que devemos apresentar respostas para estas questões em momentos futuros.
De fato diversas medidas podem ser adotadas no enfrentamento do presente problema, e o homeschooling é uma, senão a principal, delas. Mas o que deve ser enfatizado é que as propostas estatistas estão totalmente divorciadas da realidade, e quem optar por resultados concretos em vez da demagogia deve olhar cada proposição estatista com a máxima cautela.

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